Evandro Teixeira

“É preciso que a lente mágica / enriqueça a visão humana / e do real de cada coisa / o mais seco real extraia / para que penetremos fundo / no puro enigma das imagens”. Escreveu Carlos Drummond de Andrade no poema “Diante das fotos de Evandro Teixeira”.

“Para mim, não há nada mais brasileiro do que a fotografia do Evandro”. Declarou Sebastião Salgado sobre o colega de profissão, no livro “Evandro Teixeira – Um Certo Olhar”.

Personagem mítico do fotojornalismo brasileiro, sua história se mistura com a própria história do país. Evandro registrou momentos marcantes, desde a politica até o esporte. Como o golpe militar de 64, a repressão ao movimento estudantil em 1968, a queda do governo de Salvador Allende no Chile; assim como a cobertura de diversos Jogos Olímpicos, GPs de Fórmula 1 e Copas do Mundo.

Nesses mais de 50 anos de profissão, não houve uma personalidade nacional ou internacional em visita ao Brasil, que não tenha passado diante das lentes de Evandro, como a Rainha Elizabeth II, Princesa Diana, Nureyev, Papa João Paulo II, Ayrton Senna, Pelé, Garrincha, Drummond, Tom, Vinicius, Cartola, Niemeyer, Pablo Neruda, Fidel Castro, Carlos Lacerda, Leila Diniz e muitos outros, tanto famosos, como anônimos.

Evandro Teixeira nasceu em 1935, na pequena cidade de Irajuba, no sertão da Bahia. Quando menino, improvisava um cinema na escola, usando uma caixa de papelão e sobras de negativos. Na adolescência, ao ver um exemplar da revista “O Cruzeiro”, que exibia trabalhos dos melhores fotógrafos da época, resolveu se inscrever em um curso por correspondência, promovido pela revista, com a participação de José Medeiros, um dos pioneiros do fotojornalismo no Brasil.

Trabalhou em jornais de Ipiaú, Jequié e Salvador, na Bahia, antes de mudar-se para o Rio de Janeiro em 1957. Foi morar em Copacabana, nos anos dourados, quando floresciam a Bossa Nova, o Cinema Novo e o país vivia dias de glória, durante o governo JK. Começou no “Diário da Noite”, de Assis Chateaubriand, mas seu faro apurado para manchetes chamou atenção do Jornal do Brasil, considerado o Olimpo do jornalismo brasileiro e que viria a ser um dos mais ferrenhos opositores da ditadura militar no Brasil.

Convidado para integrar o “dream team” do JB que contava com Drummond, Otto Lara Resende, Antonio Callado, entre outros, Evandro adentrou em 1963 a redação, da qual só se despediu 47 anos depois, em 2010, quando o jornal interrompeu a circulação da edição impressa.

Uma das suas fotos mais famosas, feita na “Passeata dos Cem Mil” em 1968, mostra a multidão empunhando uma faixa onde se lê: “Abaixo a Ditadura – O Povo no Poder”. A imagem foi censurada, e acabou sendo publicada só 15 anos depois, no seu primeiro livro “Fotojornalismo”.

Em 2008, lançou o livro “68 destinos: Passeata dos 100 mil”, no qual traça os destinos de 68 participantes da histórica passeata. Lançou também, entre outros, os livros “Canudos 100 anos” (1997); “O Livro das Águas” (2001), “Vou Viver: Tributo ao Poeta Pablo Neruda” (2005), e “Retratos do Tempo, 50 anos de Fotojornalismo”(2015).

Durante a ditadura militar, Evandro apelava para criatividade para driblar a censura, produzindo fotos simbólicas e poéticas, aparentemente inocentes, mas que carregavam, subliminarmente, poderosas mensagens contra o regime, que muitas vezes passavam desapercebidas pelos censores, para o deleite dos leitores do JB. É o caso da famosa foto das libélulas, símbolo da liberdade, pousadas sobre as baionetas, símbolo da opressão, feita em 1967, num evento militar, e publicada na primeira página do JB.

No dia seguinte, Evandro foi convidado a comparecer ao gabinete do Presidente da República Costa e Silva, de onde saiu preso, para “aprender a respeitar o presidente”, que se sentiu ofendido pela foto dele ter saído pequena nas páginas internas, enquanto as libélulas reinavam absolutas na capa. Outra foto antológica desse período, carregada de simbolismo, foi a do motociclista da FAB caindo, considerada na época como uma metáfora visual da queda do governo militar.

Outra foto que transforma história em arte, é a da cavalaria cercando a igreja da Candelária em 1968. Essa imagem, apesar de retratar um momento dramático, possui uma apurada composição visual, como bem descreve o escritor Ruy Castro: “O galope dos policiais a cavalo sobre os estudantes, com o desenho das pedras portuguesas em volta da igreja, dando aquele tremendo movimento e dramaticidade a cena.”

Evandro já expôs em diversos países como Brasil, Argentina, Colômbia, Cuba, México, Estados Unidos, Espanha, França, Itália, Suíça, Alemanha e China. Suas fotos integram os acervos de grandes museus espalhados pelo mundo, como o Kunsthaus Zurich (Suíça), Museuo de Arte Moderna La Tertulia (Colômbia), Museu de Arte de São Paulo (Masp-SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e Museu de Arte do Rio (MAR-RJ).

Escolhido pela Leica, como um dos 40 maiores fotógrafos de todos os tempos, expôs na galeria da legendária fabricante alemã de câmeras em Nova York, ao lado mestres como Cartier-Bresson, Robert Cappa e Marc Ribaud. Sebastião Salgado e Evandro eram os únicos brasileiros participando da mostra.

Sua vida e obra foram retratadas na biografia “Evandro Teixeira – Um Certo Olhar” de Silvana Costa Moreira e no documentário “Instantâneos da Realidade” de Paulo Fontenelli.